As pessoas aparentemente gostaram quando contei esta história a elas com as minhas palavras e, como, pessoalmente, amo esta história, decidi que seria interessante fazer dela um artigo aqui no blog.
Esta "estória" é originalmente encontrada no simpósio de platão. Na cena do banquete, quando Aristófanes dá o seu discurso, que é, basicamente, "A Origem do Amor".
Há muitos séculos, quando a Pangeia ainda era o único continente e a Terra estava em sua plena juventude, os deuses já assistiam a humanidade do topo do Olimpo.
A humanidade, porém, não era como a conhecemos hoje.
Todos viviam em forma de esfera. Eram verdadeiras bestas enormes. Tinham dois pares de pernas e braços. E por terem duas cabeças, podiam enxergar tudo o que acontecia ao seu redor. Caso ficassem cansadas de andar, as bestas rolavam como grandes barris orgânicos.
Eles eram muito cheios de si e satisfeitos. Seres muito orgulhosos.
Seuxalmente, havia algo a mais. Eram três sexos ao invés de apenas dois.
Havia os filhos do Sol (dois homens grudados pelas costas, Andro), as filhas da Terra (duas mulheres igualmente coladas, Gino) e os filhos da Lua (Um homem e uma mulher unidos por detrás, andrógino).
Autosuficientes e ambiciosos. A ousadia era cada vez maior nas atitudes daquelas criaturas. Tal ousadia já começava a assutar os deuses que os assistiam cada vez mais receosos.
A gota d'água foi quando, a então humanidade, tentou subir o Monte Olimpo para tomar o lugar dos deuses, fazendo-os a maior afronta possível.
Os deuses concluiram que uma atitude deveria ser tomada.
Hefesto sugeriu que matassem a todos como fizeram com os gigantes.
Mas Zeus tivera uma ideia muito melhor e, então, apresentou-a aos outros olímpicos : Não podemos matá-los, pois precisamos de suas oferendas, sacrifícios, preces e fé. Há uma outra solução.
Hélio, escurece o Sol ! Hera, incha as nuvens ! Hefesto, traz-me meus raios. Cortá-los-ei bem ao meio e teremos o dobro de regalias deles ao passo que bastamos com sua arrogância !"
As criaturas que escalavam o monte pararam para ver o que acontecia. O céu se fizera escuro e algo terrível aconteceria, era óbvio que haviam exagerado.
E as navalhas mortais cairam do céu sobre a humanidade. As criaturas tiveram seus corpos partidos bem ao meio. A própria alma fora dividida pelos raios, cortando todos à própria miséria.
Fracos, feridos e humilhados, os seres humanos corriam para todos os lados em busca de sua outra metade. Mas como saber quem era se eles nunca se viram de verdade ? Eles viviam costa-à-costa e nunca haviam percebido o quão importantes eram um para o outro, pois já viviam como um.
Os que se encontravam, se abraçavam desesperadamente para voltarem a serem um outra vez.
Um a um, eles morriam de fome. A mortalidade exacerbada alarmou os deuses. Não podiam ficar sem seus crentes !
Zeus, então, teve outra ideia astuta e disse :
"Apolo, desce e cura essas bestas, puxa-lhes o sexo para frente, pois assim os opostos se reproduzirão e os iguais poderão satisfazer-se ! Após a cura, atá-lhes a cicatriz na barriga, como prova do que fizeram e lembrança do seu castigo !"
Apollo cumpriu sua tarefa, curando as feridas das criaturas, criando do umbigo a lembrança e a humanidade podia continuar vivendo.
Porém, havia ainda uma sede de vingança entre os deuses.
Ártemis causou um grande terremoto.
Hera, um grande maremoto.
E juntas, a maior tempestade de todas.
O continente da Pangeia se rasgou e nasceram os cinco de hoje em dia.
E todas as pessoas foram sugadas pela tempestade e espalhadas por todos os cantos do mundo. Condenadas a vagar eternamente atrás da outra metade, atrás daquilo que tanto as falta.
E Zeus avisou que se nos portamos mal, cortar-nos-ão outra vez ... e seremos caolhos de uma perna.
Quando uma metade encontra a outra, ela é invadida por sensações completamente antagônicas. Ao mesmo tempo em que desejam ser um outra vez. São imediatamente lembrados da dor da separação. Não é no rosto onde está a dor, mas, sim, no astral.
Quando juntas, as metades ignoram o tempo e a tristeza, pois estão fortes e completas. Quando separadas, tudo o que fazem é vazio e tedioso.
O abraço é o mais próximo da união que um dia tiveram e é onde encontram o que lhes é tão familiar.
A pureza do verdadeiro amor entre as almas que se completam é além da carne e além da mente. Ou seja, está longe da compreensão mortal.
Quando as duas metades estão juntas e não sabem explicar o por que de tal necessidade, é porque se amam verdadeiramente.
Foi pelo medo divino que nos convertemos em solitárias criaturas bípedes.
E neste mundo feito de ficção, nada além do amor é o que parece.
Palavras marcantes, muito boa a história, poética e crítica, linda e triste.
ReplyDeleteSimples e de fácil "digestão", de fato umas das melhores que já li.